Por Águia Cabeluda: (Veterano voador de Asa Delta)
A única coisa que atrai mais curiosos do que um assalto a banco com reféns e cerco policial, é uma asa delta ou um parapente a aterrar!
Não existe forma de escapar das legiões de desocupados que preambulam por aí sem nada para fazer, enquanto não chega a hora das novelas.
A não ser que você prefira arborizar no meio da floresta amazónica, você está condenado a enfrentar este exército de curiosos assim que puser os pés no chão.
Se você voa, conhece a espécie: é aquele pessoal que precisa tocar em tudo, para acreditar no que estão a ver. Parecem um bando de cegos procurando identificar pelo tacto cada detalhe do OVNI, que acabou de aterrar. Ás vezes chegam a ser agressivos e perigosos e contam-se muitas histórias de horror a respeito.
Ninguém esquece o drama do piloto que foi literalmente devorado com asa, equipamento, tudo, pelas 8.000 criancinhas durante um Campeonato.
Se você aterra próximo à civilização, porém, o risco maior são os CUMECS. São os tais desocupados curiosos que não sabem diferenciar uma PÊRA MADURA de um BOEING 747. E querem saber tudo!!!
- CUMÉQUI voas nisso? Cuméqui isso, cuméqui aquilo e não param mais. Por isso, são conhecidos no meio do voo livre como os CUMECS.
Os problemas começam a partir do instante em que você exibe o seu sorriso de felicidade, afinal, você acaba de fazer um voo maravilhoso e está radiante de alegria por continuar com todos os órgãos no lugar, ossos inteiros e, muito importante, respirando normalmente.
Estar vivo, entretanto, nem sempre é uma vantagem, especialmente quando você se vê rodeado pelos CUMECS.
Sorrir numa situação destas é puro suicídio. É o sinal verde que os CUMECS estavam à espera para acabar com sua paz e tranquilidade. A partir deste instante você está condenado a passar as próximas horas respondendo às perguntas que são sempre as mesmas.
Alguns pilotos chegam a levar um CAMELBACK reserva com CÁPSULAS DE CIANETO dissolvidas para situações deste tipo, sem saída.
Porém, se você quer voar novamente no dia seguinte, esta solução pode atrapalhar um pouco seus planos. O melhor é manter a calma, respirar fundo, fechar os olhos, pensar na CLAUDIA SHIFER e ficar repetindo mentalmente o seu mantra: boazona.....boazona.....boazona.
Se isto não o acalmar, você ainda tem uma saída: fingir que é estrangeiro:
- ”Eu no fala portugueish !”
Nessa situação lembre-se de pedir à sua recolha a falar pelo radio, em inglês ou qualquer outra língua. Numa emergência serve a língua do ‘p’.
- P Chi, P co, P on, P de, P es, P tá, P vo, P cê, P pu, P ta, P o, P q, P pa, P riu ?!!!
A solução ideal, contudo, recomendada pelo "Manual de Boas Maneiras para Pilotos de Vôo Livre", é procurar ser educado e atencioso para com o público em geral e, particularmente com a Claudia Shifer o que, convenhamos, não é tão difícil assim.
A seguir relacionamos as perguntas mais freqüentes dirigidas aos pilotos, com sugestões para respostas, além de algumas normas de procedimentos para tratar os CUMECS, com paciência e cortesia.
PERGUNTA: “Não tem medo, lá no alto?”
RESPOSTA: “O segredo é não olhar para baixo.”
P: “É frio lá em cima?”
R: “Claro que não. Quanto mais perto do sol, mais quente fica.”
P: “E quando chove, como é que vocês fazem?”
R: “A gente vai voar em cima das nuvens.”
P: “Você não tem medo de ser apanhado por uma tempestade?”
R: “Só de pensar nisso eu me borro todo.”
P: “E como vocês fazem numa situação dessas?”
R: “Normalmente usamos fraldas.”
P: “Qual é a sensação de voar?”
R: “É como estar a ter um pesadelo, acordado.”
P: “Então porque você voa?”
R: “É o que meu psiquiatra está a tentar descobrir.”
P: “É fácil aprender?”
R: “A apredizagem é gradual, e por etapas. Primeiro você desce a encosta, sem equipamento, correndo. Depois, repete com um guarda-chuva fechado preso nas costas, depois com o guarda-chuva aberto, depois com um guarda-sol fechado e assim por diante, até chegar à Asa completamente aberta.”
P: “Quanto pesa uma asa?”
R: “Não sei, pergunte ao meu criado, quando ele chegar.”
P: ”Como você vai embora?”
R: “Estou pensando em ficar por aqui. Que idade tem essa beldade da sua irmã?”
P: “Você caiu aqui?”
R: “Pois é, acabou a gasolina.”
Nota: Outra alternativa é dizer que “acabou o ar”. Isso manterá os CUMECS pensativos e calados por uns 2 minutos, mais ou menos.
P: “Para que serve isso (Variómetro)?”
R: “É o GIROSPLIC OROGRÁFICO. Serve para medir o "LAPSE RATE" ADIABÁTICO.”
Nota: Isso normalmente garante mais 2 minutos de sossego. Porém, você consegue silenciar de vez os CUMECS, se for a sua namorada quem está a fazer a recolha. Quando ela chegar grite bem alto para Todos Ouvirem:
- ”ÔBA, lá vem a minha IRMÃ!!! Saia correndo, agarre sua namorada apaixonadamente e lasque um tremendo BEIJÃO na boca. Dê o maior amasso em público.
Se a sua performance for convincente ninguém vai lhe perguntar mais nada, a multidão de CUMECS se dispersará e a tua namorada ainda te fará mais algumas recolhas antes de te trocar definitivamente pelo Ricardão, que é surfista e não dá trabalho.
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